Por Elis de Sisti Bernardes
A região do Itaperiú recebeu seus primeiros povoadores por volta de 1810, formados por descendentes dos açorianos que se estabeleceram inicialmente as margens do rio Itapocu. Foi então fundada a comunidade do Itaperiú, as margens do rio Itaperiú e do rio São João.
Com a chegada desses povoadores, os povos indígenas como os Xokleng, que habitavam e circulavam entre os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, denominados pelos colonizadores como botocudos ou "bugres", eram vistos como uma ameaça, assim como esses novos povoadores para os nativos, o que resultou na ocorrência de desavenças entre brancos e "bugres".
Assim como ocorreu em toda a América, os conflitos com os colonizadores e as doenças trazidas pelos europeus dizimaram a maior parte da população nativa original.
- Ataque de índios na vila da Fazenda das Três Barras
No dia 9 de fevereiro de 1848, às 10 para as 11
horas da manhã, ocorreu um grande ataque dos indígenas na vila da Fazenda das Três Barras. Em número extraordinário, atacaram ao mesmo tempo todas as
casas do pequeno povoado da Fazenda das Três Barras. Foram vítimas as propriedades de D. Joaquim de Jesus, Manoel Gomes de Freitas, Manoel Joaquim de Souza, Florindo José da Cunha, José Manoel, André Nunes da Silveira, Joaquim Padilha e José Gomes de Freitas.
Apavorados, aos moradores só restou fugir pelas matas para salvarem suas vidas. Outros, sem tempo de fugirem, se fecharam nos quartos a espera da morte que
viam chegando enquanto os selvagens procuravam forçar as portas que os
defendiam. Quando retornaram as suas casas, encontraram-nas em estado lamentável. Suas caixas e baús abertos e vazios, levaram tudo o que possuíam, seus bens foram quebrados, e não restou nem mais um só ferro.
Pegando todos de maneira inesperada o ataque teve grande sucesso, resultando na morte de uma negra e de um filho da mesma, escrava de Andre Nunes da Silveira e nos ferimentos da mulher de Florindo José da Cunha, que foi conduzida para São Francisco, para curativo com uma criança de 3 meses de idade também ferida no pescoço.
As famílias ficaram assustadas, sem poder cuidar de seus trabalhos rurais, de onde tiravam sua subsistência. Não era possível permanecer senão forçados os habitantes daquele povoado, vindo-se obrigados a abandonar suas propriedades e lavouras, com enorme prejuízos e desvantagem ao progresso que oferecia o lugar, e a toda Província, solicitando-se então que fossem auxiliados pela autoridade pública com providencias em respeito este lugar.
[As Guardas Nacionais,
não garantiam segurança alguma, esses guardas além de morarem distantes, nem sempre são encontrados
quando são procurados e são pobres, muitas vezes andam por fora do lugar em
agências da vida, e quando alguns concorram, sempre em pequeno número, e que
tenham sincero desejo de se prestarem as exigências publicas, não se
podem demorar reunidas sem que sejam, pelo menos, sustentadas a custa de
quem as chama, um sacrifício semelhante não as compadece com o estado em
que atualmente se acham os que foram pacientes de um semelhante flagelo, que além de não serem abastados, pouco possuírem, ficaram inteiramente inabitados
para qualquer contribuição e antes merecedores da compaixão de seus
concidadãos, e da proteção do governo da Província para quem apelam.
Logo que o gentio invadio a fazenda de Tres barras dei conta ao Senhor
Chefe de Policia bem convencido então de que, por esta Repartição, fosse
presente a Vossa Excelência a ocorrência que teve lugar. uma força de treze
praças seguiu imediatamente no alcance do mesmo gentio; e sem encontra-lo,
entrando pelo mesmo lugar da invasão, teve que regressar pelo Rio Cubatão em
cujo transito apenas descobriu muitos vestígios postos que não muito recentes; alem d’aqueles por onde fora feita a entrada até realizar o sobre dito gentio sua
tentativa na fazenda já mencionada. foi sem duvida pequena a força para prosseguir com uma maior exploração, mas as circunstancias não permitiram ou tra cousa. A gente é pobre, e tem por isso tantas vezes de procurar em lugares
diversos os meios de sua subsistência, além do que residem a distâncias um
tanto notáveis: do que tudo resultou fazer-se o que em casos tais só podia fazer-se:
É necessário perseguir o gentio, evitando quanto se possa a repetição de cinas
tão prejudiciais quanto desagradáveis: o meio único de o conseguir segundo penso,
é o de uma forte expedição bem comandada, porém sobre a direção de vaqueanos – que só da Coretiba se podem conseguir, porque aqui os não há. Não
falta gente de que se possa compor uma boa expedição, a ir fazer o que o gentio em suas próprias habitações: sendo porém falta de meios seria necessário
fazer-se-lhe o necessário provimento não só do que tem de alimentá-la como
igualmente. Da necessária munição de pólvora e bala; Esta expedição se torna
urgente, pois que ultimamente se afirma achar-se o gentio estacionado atrás do
morro denominado Atromba distante da barra do Cubatão cerca de quatro léguas
mais ou menos:
Vendo os estragos produzidos pelos botocudos, as lideranças de São Francisco decidem solicitar providências do Presidente da Província de Santa Catarina, vendo eles necessária uma força suficiente para permanecer em semelhante ponto algumas praças dos pedestres]. Foi então criado um destacamento contra o "gentio".
João Vicente Nobrega Dutra foi Delegado de Polícia e dirigiu a defesa contra os bugres no município de São Francisco, quando em outubro de 1849 passou o cargo para o Ajudante da Companhia de Pedestres João Ricardo Pinto.
Em Maio de 1850, o destacamento ficou composto apenas pelo Cabo João Paulo da Fonseca e o Soldado João Manoel Soares da Rocha. No dia 11, o Soldado José Mendes dos Santos foi preso na cadeia de São Francisco por querer desertar e no dia 18 faleceu e foi sepultado o Soldado Chrispim José Pereira, vítima de febre amarela.
Em Marco de 1854 o Tenente
João Ricardo Pinto informa de ter mandado percorrer os matos do Cubatão até a Serra
e não haver encontrado o menor vestígio de gentio e mandando colocar nas
Três Barras outra vez a guarda de Pedestre que ali existia, tomei a deliberação de não fazer ali destacar as 7 praças de Guardas nacionais
ordenados, visto que durante os
trabalhos do Caminho nada havia a recear, mesmo por que na Fazenda das Três Barras existem cinco casais reunidos todos moradores da mesma fazenda,
além da viúva Dona Joaquina que também reside com seus Escravos.
Confrontos entre colonos e índios em Barra Velha
Em 1866, o Delegado de Policia São Francisco, Antonio Vieira de Araujo, enviou um ofício ao Presidente da Província Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, afirmando que há seis anos apareceram vestígios de bugres há cerca de oitocentas braças do mar, no morro Comprido, que corre
paralelo no Tabuleiro de Barra Velha, e que já se passavam mais de vinte anos
que eles praticaram vários assassinatos de habitantes e como não ocorriam novas agressões desses "sanguinários inimigos", não os perseguiram. Entretanto informa que um
fato acompanhado de todo o requinte da malvadez acaba de ser
praticado pelos selvagens.
No dia 19 de fevereiro de 1866, depois de por vários
anos vigiarem as casas e procurarem a ocasião mais própria, no
amanhecer, quando viram sair alguns moradores, assaltaram e mataram quem encontraram. Assassinaram dois adultos e três menores, deixando a
mulher por morta com uma flechada no braço que o varou e uma pancada
sobre os peitos deixando os outros cadáveres horrivelmente mutilados.
O Delegado pede então providências enérgicas ao Presidente.
O Presidente pede para que o Delegado e o Juiz de Direito da Comarca sigam e permaneçam na Freguesia de Barra Velha enquanto as circunstâncias exigirem. O Delegado afirma que partirá para Barra Velha, apesar de achar-se doente, mas o
fará com sacrifício porque dos seus substitutos só há o 3º, este também
doente. Por não estarem
prontas, deixou de enviar as doze clarinas que são as armas mais próprias
para se conduzir no mato, e pede que seja enviado para o destacamento, visto que ainda faltam trinta e oito clarinas,
e algum cartuchame,
porque a Guarda Nacional não tinha armamento. Tendo apenas algumas clarinas em razão de uns curitibanos terem assaltado a casa do
finado Tenente Coronel Camacho cujas armas estavam no Quartel, mas ao examiná-las achou todas com defeito em estado de não servirem sem concerto, assim mandou as comprar na importância de 16$440 réis, que pede que a Província os reembolsem.
Por ordem
do Presidente da Província, o Comandante da 5ª Companhia de Guardas Nacionais reuniu 50 Guardas para destacar. Consta-me pelo Major Francisco
da Costa Pereira à poucos momentos chegado do Itapucu, que os
moradores nas terras da Princesa aterrorizados pretendem abandonar suas
habitações; pelo que recomendo a Vossa Senhoria de os tranquilizar. Os
habitantes estando acautelados com armas e vigilantes, não correm
perigo, no entretanto reune-se a Guarda Nacional para bater o mato; e
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assim que estejam prontos doze clarinas que mandei compor irão com
cartuchame embalado para ser distribuído ao destacamento. José Joaquim da Costa era o Subdelegado de Policia do Distrito de Barra
Velha.
A Província enviou 50 armas com baionetas e 500 cartuxos embalados e deu ordens para o pagamento dos guardas destacados, e diz ter chegado hoje de Barra Velha. Segui em companhia do Doutor Juiz de direito interino pelo Itapocu para
Barra Velha, em cujo trânsito, tratamos de examinar o que havia
relativamente aos selvagens e obter informações para desempenhar-mos o determinado. No Itapocu soubemos que o
povo aterrorizado por noticias exageradas não eram elas tantas e tão perigosas como se espalhara, havia muitos sinais da existência dos indígenas e foram achados vários ranchos de palha alguns com cerca
de 50 palmos de comprimento, mas ninguém os tinha visto. Não achando que
a nossa presença ali fosse precisa, seguimos para Barra Velha e até uma
légua adiante no lugar Itajuba onde permanecemos por alguns dias enquanto se reunia o destacamento de guardas nacionais onde depois de
vermos a melhor posição para ser colocado o destacamento que protegesse
os habitantes, verificamos a necessidade de dividir o destacamento
em duas forças iguais, uma no lugar denominado Morro Comprido, cobrindo os cultivados dos moradores e o lugar em que se deu as ocorrências dos bugres, e outra no lugar Farinha Seca, cobrindo parte da cultura tanto dos moradores da estrema do distrito de Barra Velha, como
os de Piçarras pertencente a Freguesia de Itapocorói, em cujos
lugares se tem de fazer os ranchos ou casas para serem recolhidas
as forças, e como já tinha recomendado ao Subdelegado este convidara os
moradores e começarão a abrir uma picada do lugar Farinha-seca ao
Itapocu e que teve seu começo ate o Morro comprido. Essa picada que
servindo de proteção aos moradores e que se continuar até o Paraty se tornará de muita utilidade por nos dar uma estrada pelo interior mais curta,
melhor e de mais fácil comunicação pode seguir ao Itajaí ao lugar do
Luiz Alves – da Farinha-secca; é a mesma linha de defesa mandada
fazer pelo ex-Presidente General Andrea. Achando-se com as providencias dadas, os habitantes tranquilizados e não se tornando então mais precisa a nossa presença tendo-se incumbido o Tenente Joaquim Domingos da
Natividade de aquartelar o destacamento que ficou concluído no sai 20 na
casa do engenho do proprietário Francisco Baptista de Almeida
até se construir as casas para receber a força tendo também me
inteligenciado com o Subdelegado voltamos para São Francisco. Por alguns
moradores dos lugares, Princesa foreiros lavradores nas terras dos Príncipes
de Joinville estrema ao Sudoeste do Paraty, e Três Barras, soube que os
bugres deixam rastros de continuas passagens em abundancia vendo-se
fogos nos morros, e destes últimos lugares se me apresentarão dois lavradores pedindo providências com fundados receios de serem assaltados
os seus estabelecimentos, ponderando a necessidade de fazer-se em
cada um desses três lugares com que se designasse vinte guardas
nacionais os quais dispensados do serviço ordinário e estivessem
encarregados de em dias indeterminados percorressem o mato, trabalhar
este que os guardas fariam sem estipendio algum como já
antigamente se praticou. Acho conveniente essa medida, e por isso leva ao
conhecimento de Vossa Excelência para deliberar a respeito mesmo porque
as minhas requisições aos Comandantes da Guarda Nacional não tem
merecida resposta.
Os indígenas tem
assaltado neste município por muitas vezes deixando por sinais de seus
aparecimentos lagos de sangue e até incêndios de casas, eu fui um deles pois fazendo um estabelecimento no lugar Palmital contígua as
Três Barras na estrema com a Província do Paraná onde se tornaria um
vantajoso estabelecimento, queimarão me a casa, roubaram quanto
acharam e perdi uns poucos de contos de réis e assaltado me vi forçado a abandonar a cultura de uma fazenda com uma légua de terras em quadro. Nas Três Barras, no Saguaçú, na Farinha Seca, na Itajuba,
nas Piçarras e ora em Barra Velha, os ferozes botocudos tem cometido
horrores, não se contentam em matar, mutilam, estrangulam até inocentes de dias de idade, esmagam a ponto de ficarem quase em massa informe,
nestas últimas cinco vítimas há uma infeliz mulher depois de a terem morta
pegaram pelas pernas e a rasgaram até ao meio do corpo. Há seis anos para mais principiaram a aparecer vestígios de bugres no Morro Comprido,
que paralelo com uma légua de comprimento se estende em distancia de
1500 braças do mar no Tabuleiro de Barra Velha e os moradores não os inquietarão em vista das ordens do Governo; porém os selvagens aproveitaram-se disso, foram pouco a pouco se aproximando e ficaram por último essas atrocidades deixando mais por morta a uma mulher gravemente ferida, que felizmente se julga que se restabelecera. Repetidos esses horrores se há motivo de nos convencer da impossibilidade da defesa sem agressão, e de ser
miter o emprego de outras medidas, uma delas é o procurar-se os
selvagens em seus alojamentos tirar-se-lhes os filhos que se possa
agarrar, e outras é a colonização nesses terrenos ou destacamentos
permanente em Barra Velha. Tem-se de antiga data observado, que os
bugres aparecem e fazem os roubos desde o mês de novembro até entrar o inverno, mas nunca pareceram com tanta abundancia, e assim se Vossa
Excelência precisar fazer retirar o Comandante da Força Policial, é
conveniente ter-se quem se encarregue do destacamento, e para isso lembro à Vossa Excelência a Jacintho Zuzarte de Freitas e Francisco
Baptista de Almeida, este ultimo tem-se prestado com os mantimentos para
as escoltas que entraram no mato e outros de que tem feito não pequeno
dispêndio.
O Presidente da Província ordenou conservar na Freguesia da Barra Velha um destacamento da Guarda Nacional composto de 19 praças comandadas por um superior Inteligenciado de sua deliberação.
Em julho de 1866, tendo a Província mandado continuar o destacamento em Barra Velha, porém de 20 guardas nacionais como tive a honra de propor a Vossa Excelência; dos guardas que tinhão de serem dispensados estavam no mato em perseguição dos bugres os 17 que tiveram 7 dias de vencimento no mês de Maio, e remetendo-me o Comandante da 5ª Companhia os prets desse mês, exige que me enviasse em duplicata e com explicações; porem não só não o fez conforme pedi, como que dirigiu-me o disparato do oficio que junto passo as mãos de Vossa Excelência, com os prets que também me enviou e de que passo a Vossa Excelência tomar em consideração essa inconveniência para que se não reproduza. Esses prets, ou outros que teria de organizar aqui por não virem eles conformes, não pode serem pagos, porque o Administrador da Mesa de Rendas diz não ter ordem da Tesouraria para esses pagamentos, o que comunico para dar suas ordens. O Comandante da 5º Companhia Tenente João Caetano Vieira não me merece confiança e temendo alguma grave responsabilidade por falta de cautela de minha parte tomei o arbítrio de encarregar ao Senhor Francisco Baptista de Almeida pessoa de confiança morador do lugar, 2º suplente do Subdelegado e 2º Juiz de Paz, para vigiar sobre os destacamentos com a Vossa Excelência verá pela copia junta. Essa medida provisória dependente do que Vossa Excelência determinar melhor, inda não me satisfaz, porque para conciliar o interesse de proteger os habitantes de Itapacoroy com menos dispêndios reduziu-se o destacamento e dividiu-se, mas ainda acho preciso outra cautela e é que os 10 guardas do lugar Perdição ficam no Distrito Itapacoroy do Termo de Itajaí a falta de jurisdição minha pode embaraçar-me, quer na fiscalização, quer no caso de precisar lá ir além de que vendo mais perto daquela Vila o Delegado lá melhor pode empregar a necessária vigilância no destacamento do lugar Perdição, fazendo-se dos prets para não sobrecarregar a Mesa de Rendas daqui, que nem sempre terá dinheiro para satisfazer. Outrossim, acho, que para comandar os guardas nos destacamentos serem sempre por cabos, porque com quanto pequena, sempre se poupa diferença no soldo do sargento, e melhor se sujeitam ao que mandar a pessoa encarregada por esta Delegacia e que se presta gratuitamente.
Tenho a honra de passas as mãos de Vossa Excelência os inclusos ofícios por cópias que hoje recebi pra se servir dar-me suas ordens a respeito. O suplente desta delegacia receando-se dos acontecimentos dos indígenas e para prevenir desmandos dos guardas destacados, encarregou ao 2º suplente do subdelegado Francisco Baptista de Almeida pessoa que é de confiança para vigiar sobre os destacamentos. Esse encarregado que se presta gratuitamente e com prejuízo de seu serviço pediu força para entrar na mata em perseguição dos bugres que não lhe foi dada e como também de minha parte não podia ministrar-lhe recomendei que vigiassem os destacamentos prevenido-o de que comunicara a Vossa Excelência. Nos mesmos ofícios se fala em recrutamento de guardas nacionais, sendo feito pelo Subdelegado de Barra Velha pelo que determina a este, que estando autorizados Comandantes da Guarda Nacional à recrutarem, que toda vez que houvesse algum guarda no caso de ser recrutado, que avisa-se ao Comandante do 5º Batalhão para fazer e assim evitar-se reclamação. São Francisco 3 de Agosto de 1866 Joaquim Antonio da Silva Barata
Em 1º de agosto, Francisco Baptista de Almeida, Delegado de Polícia Barra Velha, informa o Presidente que tem aparecido alguns vestígios dos gentios assim como foi no mato encontrado o cão que eles tinham no Itapocu conhecido por homens que andavam com Américo, e quiseram atirar ao dito cão não deu tempo e com todos estes vestígios pediu para o Comandante da 5ª Companhia alguns guardas fora do destacamento, que com estas noticias não podia tirar gente do destacamento e os guardas que eu pedi era para uns seis dias mais ou menos seguir para o sertão, que é onde melhor se pode conhecer ou encontrar vestígios certos, não me quis ceder os guardas sem ordem superior, assim rogo a Vossa Excelência nos alcançar ordem para que se possa perseguir os gentios encontrando-se rastros. Também dou parte a Vossa Excelência que alguns guardas que andaram no mato com Americo tem sido perseguidos para o recrutamento e a 5ª Companhia esta parte dos guardas sem prestar serviço e já foi passada para a 6ª destacar sem acabar esta é homens que não sabem destes matas e junto remeto a resposta de meu ofício que veio do Comandante e Vossa Excelência me dará mais ordens.
Fica em meu poder o seu oficio de data de hoje 30 de
Julho presente e vou responder que por ordem superior dei parte ao Senhor
Comandante interino do Batalhão para ordenar ao comandante da 6ª Companhia para destacar os Guardas de sua Companhia em razão de se
ter esgotado a minha e já não ter-o nº de 40 Praças para destacarem mais
um mês, porque nesse número se acham doentes outros impossibilitados por
si ou por sua família outros empregados como sejam os Espetores, outros que moram em sertões dentro, que atendendo a portaria em 2ª via de
Sua Excelência deixo de lançar mão nos Guardas da Lagoa dos Patos, e
outros que estão central nestes sertões, que não podem desamparar suas
famílias a quem estão servindo de guarda, para livrar da invasão dos
indígenas. E tendo passando o Comando e destacamento a 6ª
Companhia por ordem do Comandante interino do Batalhão não posso destacar a 5ª Companhia sem ordem superior, e logo que esgote
àquela julgo passará para a 5º. Enquanto o Senhor Subdelegado de
Barra Velha andar mandando recrutar os Guardas de minha Companhia,
os quais tenham destacado e andaram com o Senhor Americo em diligência
de afugentar os Bugres deste lugar e sertões, a vista de sua representação e de outros cidadãos, vou fazer sentir ao Comandante superior do Batalhão para dar suas ordens, enquanto dar-lhe
guardas para correr os sertões por causa dos vestígios dos gentios que
aparece, e o próprio cão que com eles andaram ter aparecido nos matos e
roças, cujo cão é conhecido ser o próprio que com os Bugres andaram, julgo prudente que Vossa Senhoria o mande atirar para que não os acompanhe
mais. E Vossa Senhoria tem 20 Homens destacados aí e perdição a sua
disposição que estão ganhando soldo, e como encarregado
dos destacamentos pode lançar mão delas que para isso deve entender-se
com o Senhor encarregado do destacamento da Perdição o Senhor Alberto
Antonio de Borba (se julgar de direito e tem jurisdição) e reunir
estes guardas e dar suas ordens num caso tal, enquanto, representa o
Senhor Delegado de Polícia do Termo de São Francisco que ele levara ao conhecimento de Sua Excelência o qual (dará suas ordens, e virão pelos
canais competentes até os Comandantes de Companhias, que logo
darão execução, e se eu mandar sem autorização pelo contrário os
guardas para o mato em seguimento dos gentios por tempo, e dias terei de
pagar por não ter ordem Superior, só num caso sufragante o farei. O
Tenente Comandante da 6ª Companhia já tem os 20 Guardas pronto que no 1º de Agosto próximo futuro lhe serão apresentados e Vossa Senhoria
dará suas ordens como achar melhor, participando logo ao Senhor Delegado
de Policia tudo quanto fizer a esse respeito. Nesta mesma data vou fazer ciente ao Senhor Delegado de Policia para dar suas ordens. Penha de Itapacoroy / 30 de julho de 1866. Francisco Baptista de Almeida Encarregado do Destacamento do
Morro Alto, e Perdição na Barra Velha e Penha. O Tenente Comandante
da 5ª Companhia João Caetano Vieira. São Francisco 3
de Agosto de 1866.
Por ofício de 22 de Agosto findo determina Vossa Excelência que para resolver acerca do assumto do ofício
desta delegacia de 12 de Julho último cumpria que eu informasse se os
guardas de que fazem menção os prets que acompanharam o sobredito
ofício, são os que se oferecerão para destacar nos lugares denominados
Princesa e Três Barras sem retribuição pecuniária, e mediante somente a
dispensa de outro qualquer serviço. Cumpre-me em resposta dizer a
Vossa Excelência, que não são os mesmos guardas, os que constam dos
prets são destacados nos extremos da Freguesia de Barra Velha e
Itapacoroi, esta pertence ao Termo de Itajaí e aquela ao desta cidade, o lugar Princesa é distante desta cerca de quatro léguas e as Três Barras
regula quatorze léguas. Esses guardas mencionados nos prets estão até o presente sem receberem os seus vencimentos de soldo e etapa e são os mesmos que Vossa Excelência determinou que continuasse o
destacamento em razão do que tive a honra de ponderar a Vossa
Excelência sobre a falta de segurança dos habitantes de Barra Velha porém reduzidos do número de 50 que antes destacaram e nesses prets
tem 17 que andaram no mato com Americo Antonio de Oliveira percorrendo o
sertão. Pelo Delegado Suplente então em exercício foi mandado modelo
para o Comandante da Companhia fazer outros prets os quais
vieram porém o Administrador da Mesa de Rendas ainda não teve ordem da
Tesouraria para pagar nem a repartição tem rendimentos para isso. São Francisco 4 de Setembro de
1866. O
Delegado de Policia / Joaquim Antonio da Silva Barata
Estando o destacamento de Barra Velha
a cinco meses para ser pago dos prets, em razões de não ter havido ordem
para esse fim, o comunico a fim de servir-se determinar
que seja feito esse pagamento. Comunico que os
indígenas têm-se aproximado da costa da Barra Velha, porém não têm feito
mal algum, talvez devido ao receio que lhes inspirou o destacamento, que
não cessa de vigiá-los e de percorrer o mato. São Francisco 22 de Setembro de 1866. O Delegado de Policia / Joaquim
Antonio da Silva Barata
Pela Diretoria da Fazenda Provincial
foi comunicado a Coletoria desta Cidade que os prets do destacamento
em Barra Velha pertencentes aos meses de Maio e Junho seriam pagos
naquela Repartição porem não devia passar do mês de Novembro, pelo
que remeto os mesmos prets e peço a Vossa Excelência determinar que
suas importâncias sejam entregues ao Comendador Francisco Duarte Silva a
quem incumba de as receber. São Francisco 22 de Novembro de 1866 Delegado de Policia / Joaquim Antonio da Silva
Barata
Tenho a honra de enviar a Vossa
Excelência o ofício junto que remeteu-me o encarregado do destacamento de Guarda Nacionais de Barra Velha, para impedir as correrias
dos bugres desse lugar, afim de que Vossa Excelência se sirva dar as
providencias que achar mais acertadas; sendo para mim muito valiosas e
justas as alegações expostas pelo mesmo encarregado em seu oficio. São Francisco 18 de Dezembro de 1866. O Delegado de
Policia / Joaquim Antonio da Silva Barata
Determinando-me Vossa Excelência em
seu ofício de 15 do mês passado, que veio acompanhado das cópias dos
ofícios do Tenente João Caetano Vieira, do Director Geral da Fazenda
Provincial e do que a esta Vossa Excelência dirigiu, que eu providenciasse
sobre o pagamento do prets dos guardas nacionais destacados em Barra
Velha, o qual foi reclamado por aquele Tenente; tenho a honra de
responder a Vossa Excelência, que por esta Delegacia foram dadas as
necessárias providencias logo que ela soube que os primeiros prets, isto é,
os de Maio e junho, deviam ser pagos pela Mesa de Rendas desta Cidade,
conforme a ordem dada pela Tesouraria de Fazenda, mas que não foram pagos na ocasião que se os foi receber por estar essa ordem já
suspensa; a dando-se pelo mesmo tempo o fato de o Tenente João
Caetano Vieira dirigir um ofício ao primeiro Suplente desta Delegacia em exercício em termos inconvenientes, este remeto a Vossa Excelência e
pediu providencias sobre o referido pagamento, pedido este
que foi repetido. O Director Geral, que devia saber que o Coletor desta
cidade não podia pagar os prets do Semestre findo, deu uma ordem
inexequível em consequência do que deixou este de pagar os referidos
prets e pagou somente os de Julho e Agosto, e oficiou ao mesmo Director. Já recebi a importância daqueles prets e vou manda-la para a Freguesia de
Barra Velha ao encarregado do destacamento, para fazer os respectivos
pagamentos. O Diretor Geral da Fazenda Provincial, que chama de
negligente a autoridade policial, foi a causa da demora do pagamento dos
prets de que trato, pois se tivesse dado as suas ordens oportunamente,
estes prets estariam pagos, se não antes, pelo menos na ocasião que foram pagos os de Julho e Agosto. São
Francisco 22 de Dezembro de 1866. O Delegado de Policia / Joaquim Antonio da Silva
Barata
Levo ao conhecimento de Vossa
Excelência que desde o mês de Novembro do ano que acaba de findar não
tem deixado de ser os lavradores deste destrito ameaçado de um dia para
outro serem atacados pelas correrias dos Bugres que tem sido visto e dali
podem resultar a cada momento assassinatos que pratiquem os Bugres não havendo nisso duvida alguma a audácia com que se apresentam sem temor,
pois antigamente quando praticavam suas correrias iam de longa retirada,
principalmente quando atras deles iam não acontece isso hoje que eles se
apresentam com animo; e então poucos meses querem assaltarem os
moradores de novo perseguem no Rio de Itapocu a fazenda do Cidadão Joaquim José Pereira e de outros que temorizados se acham vendo o
instante que são vítimas providências se tem tomado mais não são eficazes nem tão pouco os habitantes conhecem garantia alguma para suas vidas e
defesa para todos que aqui nos matos da Itajuba se acha comandado por
Francisco Baptista de Almeida, porque não tem ele as qualidades precisas para andar nas matas com os Guardas do destacamento vigiando os Bugres onde nunca vai, os guardas não percorrem a fronteira da Freguesia
de Norte a Sul, limitam-se a pouca braças de picadas que não chegam ao Rio de Itapocu onde ao menos podia chegar e os Bugres tem sido visto na
fazenda de Joaquim José Pereira e de outros ali assim fica a maior parte
dos lavradores indefesos, como está todos que moram do meio da Freguesia, para o Norte até os limites da Freguesia do Parati e os cofres públicos se esgotando somas inúteis porque não comprovei toda a
benefícios da defesa de todos os habitantes deste distrito; os habitantes e
lavradores que em maior parte são deste distrito acham-se temorados com receio de serem vitimas da ferosidade dos Bugres todos tem me procurado
para que eu chegue ao conhecimento de Vossa Excelência que em vez do
destacamento que se acha Vossa Excelência ordene para que seja por esta
subdelegacia ou pelo Senhor Delegado de Policia contratado a defesa de
todos os habitantes com o Coritibano Manoel Rodrigues, Camarada do Coritibano Americo em quem todos tem verdadeira confiança, pela demenuta quantia que quer de quinhentos mil réis, por ano sendo pago todos o
meses pela Coletoria de São Francisco, percorrendo uma picada
que tem de abrir-se de norte e sul desde o limite das Freguesia limítrofes do Parati e da Penha com sessenta Guarda Nacionais, os quais ofertam-se ao
serviço sem vencimento algum de Soldo e atape[?], e fazendo parte dos
sessenta, vinte que já foram dispensados fornecendo Vossa Excelência a
etapa durante o tempo que se abrir a picada e quando seja preciso ir
em marcha atras dos Bugres fazer correr onde se acharem acampados,
fornecendo-se igualmente armas e munições para defesa dispensando
Vossa Excelência os Guardas Nacional os quais serão escolhidos pelo
Coritibano, desta forma alivia-se a pesada despesa que aos cofres está fazendo o destacamento ordenando Vossa Excelência abertura da picada
da defesa, na defesa e no serviço da Guarda, a qual deve ser rio acima onde fica para este todos os morros inclusive a do Jaraguá que servem trepeiras para os Bugres Sendo rondado por dez guardas cada semana, sendo o encarregado dos sessenta Guardas Nacionais o mesmo
Coritibano Manoel Rodrigues e entregue todos a autoridade Policial, para
que de todas as providencias precisas, de pronto assim servindo-se Vossa
Excelência ordenar os habitantes terem toda certeza que serão preservados de
serem vítima pelos Bugres, Vossa Excelência providenciar como melhor
achar. Subdelegacia de Policia da
Freguesia de São Pedro e a Conceição em Barra Velha 4 de Janeiro de
1867. Justino Francisco Garcia / Subdelegado de Policia
O ataque ao engenho de Marcos Filadelpho Mariano
Marcos Filadelpho Mariano nasceu no dia 21 de março de 1852 e era filho de Filadelpho José Mariano e Merenciana Maria Carvalho, naturais de Penha de Itapocoroy e moradores na Freguesia de Barra Velha, no Cerro, no atual bairro da Itajuba. Casou primeiro com Rosa Maria Francisca de Jesus, filha de Felisbino José Luiz, com quem teve filhos. Rosa faleceu, entre 1876 e 1881.
Viúvo, Marcos casou com Bernardina Maria Massaneiro, filha de José Leonardo Maçaneiro e Maria Joaquina da Costa, na igreja católica, antes de 1881.
Marcos e sua família moravam no lote 41, na rua Epitácio Pessoa, em Jaraguá do Sul, quando no dia 23 de março de 1883, houve um ataque dos índios ao seu engenho.
Marcos descansava junto das prendas dos tipitis quando ocorreu o assalto. Para se defender ele usou uma mão de pilão e com ela batia nos atacantes. Ficou gravemente ferido. Com a gritaria de guerra, sua mulher e as filhas Julia e Marina, correram em disparada ao porto, onde estava o filho mais velho, Marcos, lavrando uma canoa. Na corrida, Marina foi atingida por uma flecha mortal, que entrou pelas suas costas, morrendo ali mesmo. A filha Julia também foi gravemente ferida, uma flechada atingiu seu seio direito.
Justo nesse momento, aportava no mesmo porto o filho Antonio. Compreendendo a situação, com espingarda em riste, Antonio se junta ao irmão Marcos, que portava um machado. Sai um índio do interior engenho e salta para a briga no terreiro do engenho. Antonio acertou-o com um tiro certeiro. Os índios então saíram em debandada carregando o índio morto.
Marina foi sepultada no cemitério da Colônia Jaraguá. No dia seguinte, o ferimento de Julia infeccionara e a família foi a procura de um médico em Joinville. Na viagem a pé, pararam em Brüderthal, na atual cidade de Guaramirim, e Julia foi acudida pelo topógrafo agrimensor, Eduardo Krisch, numa intervenção cirúrgica, que embora rudimentar, salvou-a. O pai, Marcos, também curou-se dos ferimentos.
Marcos descansava junto das prendas dos tipitis quando ocorreu o assalto. Para se defender ele usou uma mão de pilão e com ela batia nos atacantes. Ficou gravemente ferido. Com a gritaria de guerra, sua mulher e as filhas Julia e Marina, correram em disparada ao porto, onde estava o filho mais velho, Marcos, lavrando uma canoa. Na corrida, Marina foi atingida por uma flecha mortal, que entrou pelas suas costas, morrendo ali mesmo. A filha Julia também foi gravemente ferida, uma flechada atingiu seu seio direito.
Justo nesse momento, aportava no mesmo porto o filho Antonio. Compreendendo a situação, com espingarda em riste, Antonio se junta ao irmão Marcos, que portava um machado. Sai um índio do interior engenho e salta para a briga no terreiro do engenho. Antonio acertou-o com um tiro certeiro. Os índios então saíram em debandada carregando o índio morto.
Marina foi sepultada no cemitério da Colônia Jaraguá. No dia seguinte, o ferimento de Julia infeccionara e a família foi a procura de um médico em Joinville. Na viagem a pé, pararam em Brüderthal, na atual cidade de Guaramirim, e Julia foi acudida pelo topógrafo agrimensor, Eduardo Krisch, numa intervenção cirúrgica, que embora rudimentar, salvou-a. O pai, Marcos, também curou-se dos ferimentos.
Após esse ataque, antes de 1891, a família mudou-se então para o Ai, no atual bairro de Santa Luzia, onde morava a família do sogro de Marcos, José Leonardo Maçaneiro.
Referências
- CARTÓRIO CIVIL. Livros de registros.
- EMENDÖRFER FILHO, Victor. A primeira história de Guaramirim. 1ª ed. Jaraguá do Sul. Ed. Correio do Povo, 2001.
- IGREJA CATÓLICA. Livros de registros.