Padre Manoel Julio de Carvalho Bueno


Por Elis de Sisti Bernardes


Manoel Julio de Carvalho Bueno nasceu por volta de 1837, em São Francisco do Sul, filho de Antonio de Carvalho Bueno, natural de São Paulo e de sua segunda esposa, Antonia Maria Pereira do Carmo, natural de São Francisco. Era neto paterno de João Mathias de Carvalho, natural de Curitiba e de Anna Maria de Oliveira e neto materno do Capitão Manoel Pereira da Costa e de Maria Antônia de Miranda, naturais de São Francisco do Sul.

Manoel foi batizado por justificativa na Igreja de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco no dia 15 de janeiro de 1839. Foram seus padrinhos o Capitão-Mor Antonio Tavares de Miranda e Maria do Nascimento de Jesus, esposa do Capitão-Mor João Pereira de Lima.

Sua família tinha bons recursos, seu pai era de longa e tradicional linhagem paulista e bandeirante, sendo o último Capitão-Mor de São Francisco do Sul e o homem mais rico e importante do Norte de Santa Catarina no início do século XIX.

Em seu primeiro casamento, com Bárbara Jacinta Leite de Morais, seu pai teve nove filhos, entre eles o Reverendo João Mathias de Carvalho Bueno, que foi cônego da Capela Imperial e professor e reitor do Seminário de São José no Rio de Janeiro, além de ter sido eleito representante de Santa Catarina na Assembleia Geral Legislativa do Império; e Theresa Maria de Jesus, mãe do padre Antonio Francisco Nobrega, que foi pároco de São Francisco junto a ele. Também era primo do Padre Benjamim Carvalho de Oliveira que foi pároco em São Francisco antes dele.

No casamento com sua mãe, seu pai teve mais quatro filhos, dois homens e duas mulheres, quando então faleceu, antes de 1850. Viúva, sua mãe se casou com o Comendador Francisco da Costa Pereira, nascido na província do Minho, Portugal, um homem que fez fortuna e foi a maior influência política da região de São Francisco do Sul.

Na década de 1850, Manoel Julio foi estudar no Seminário São José, no Rio de Janeiro, a custas de seu meio-irmão, Cônego João Mathias. No início do ano, Manoel Julio partia do Porto de São Francisco até o Porto do Rio de Janeiro para estudar no Seminário. A viagem, realizada em embarcações como patachos ou sumacas, durava em média oito dias. No fim do período letivo ele retornava à São Francisco. Nos primeiros anos, viajou com Cônego João Mathias. Seu cunhado, Antonio Francisco Nobrega, casado com sua meia-irmã Theresa Maria de Jesus, viajava constantemente ao Rio de Janeiro com o filho, de mesmo nome, que também estudava no Seminário e eles o acompanharam algumas vezes, assim como outros jovens francisquenses. Com o falecimento de João Mathias, em agosto de 1855, Manoel Julio recebeu como herança as despesas com sua instrução.

O Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX. Vê-se ao fundo, encostado no Morro do Castelo, o Seminário São José (Vista tomada de Santa Teresa, por Johann Jacob Steinman, 1839 em Histórias e Monumentos, 2015)

Foi ordenado presbítero pelo bispo de Goiás, Dom Domingos Quirino de Souza, em agosto de 1862. No dia 11 de setembro do mesmo ano retornou à São Francisco, onde foi pároco, realizando também as cerimônias da freguesia de Bom Jesus do Parati, atual Araquari e da freguesia de Barra Velha, que eram frequentadas pelos moradores do Itaperiú, entre dezembro de 1862 a dezembro de 1866.

Igreja de Nossa Senhora da Graça de São Francisco do Sul no século XIX (Museu de Arte Sacra Pe. Antonio Nobrega)

Foi vereador de São Francisco, eleito no ano 1864 como o quinto mais votado, com 673 votos, uma diferença de apenas 17 votos do primeiro colocado, exercendo o cargo de 1865 a 1868.

Com o falecimento do Padre Benjamin Carvalho de Oliveira, seu primo-irmão, que era vigário colado da igreja e da vara da comarca de São Francisco, ocorrido em 27 de maio de 1867, aumentaram as suas responsabilidades na paróquia. Foi nomeado interinamente vigário da Vara da Comarca Eclesiástica do Rio São Francisco do Sul. Em 25 de abril de 1868 recebeu licença de um ano para confessar.

No dia 17 de março de 1871 foi nomeado vigário encomendado da Freguesia de São Pedro de Alcântara da Província de Santa Catarina, voltando a realizar cerimônias em Barra Velha entre abril a agosto daquele ano.

Foi nomeado, em 29 de setembro de 1873, professor público efetivo da cadeira de primeiras letras do sexo masculino da freguesia de Nossa Senhora da Glória do Saí pelo presidente da Província de Santa Catarina, conforme solicitou.

Chegou ao Rio de Janeiro no dia 13 de novembro de 1876, após 21 dias a bordo da escuna Minerva. Adoeceu mentalmente e em 1879 ficou sob a curatela de seu cunhado Bento da Costa Pereira, que era irmão do Comendador Francisco da Costa Pereira, o segundo marido de sua mãe, e conforme escritura feita no 1º Tabelionato se encontrava em lugar incerto.

Hospício Pedro II no Rio de Janeiro no fim do século XIX (Foto de Marc Ferrez, 1890)

Esteve internado no Hospício Pedro II, na Praia da Saudade no Rio de Janeiro, onde se encontrava há muito tempo em tratamento até que faleceu no dia 01 de fevereiro de 1882, sendo sepultado no dia seguinte.



Referências 

GOMES, Roberto. Julia Maria da Costa. Criar Edições. 

HISTÓRIAS E MONUMENTOS. Seminário São José do Morro do Castelo

JORNAL DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro, 19 ago. 1862. 

JORNAL O APÓSTOLO. Rio de Janeiro. 

JORNAL O DESPERTADOR. Desterro. 

NASCIMENTO, Antônio Roberto. Os Carvalhos Buenos: Pesquisa genealógica. Guaxupé: Nossa Senhora Aparecida, 2004.

TOMIO, Telmo. Genealogia e História.